11 Mai 2019
A partilha do poder entre o clero e os leigos é essencial para um “procedimento sinodal vinculante”.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por La Croix International, 09-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os bispos católicos alemães anunciaram recentemente que um compromisso de iniciar um “procedimento sinodal vinculante” será um fracasso se os prelados não abrirem mão de algum poder aos leigos, advertiu um jovem teólogo.
Michael Seewald, professor de dogmática de 32 anos da Universidade de Münster, disse que um procedimento sinodal bem-sucedido dependerá de como os bispos compartilharão o poder, fomentarão a participação e implementarão um sistema de freios e contrapesos.
Em um artigo do dia 26 de abril no jornal alemão Süddeutsche Zeitung, Seewald disse que isso exigiria um ato de coragem por parte dos bispos que “ainda estão amarrados às rédeas da Cúria Romana”.
O teólogo observou que o Concílio Vaticano II (1962-1965) quis que o Colégio dos Bispos participasse da liderança da Igreja junto com o papa. Mas ele disse que isso ainda não foi posto em prática porque as autoridades da Cúria no Vaticano alegam deter poder sobre os bispos por meio da autoridade do papa.
Teoricamente, um bispo é todo-poderoso em sua diocese, disse Seewald. Mas ele observou que, de fato, a liderança diocesana é muito mais complexa, e muitas pessoas estão envolvidas de um modo que é difícil de entender. Ele disse que é essa discrepância que contribuiu para os escândalos de abuso sexual clerical nos últimos anos.
Por um lado, um bispo detém todo o poder de decisão. Mas, por outro, especialmente quando as falhas se tornam de conhecimento público, o poder de decisão é tornado anônimo, de modo que o bispo fica livre de qualquer responsabilidade direta.
O professor Seewald disse que a crise atual pode ser superada, mas exigirá que os bispos tomem uma decisão fundamental.
A primeira opção é criar estruturas que distribuam o poder de modo direto e facilmente compreensível e em que os tomadores de decisão sejam responsabilizados.
Mas isso só será possível, disse ele, se os bispos renunciarem a alguns de seus poderes, se deixarem monitorar e permitirem que os leigos sejam mais envolvidos.
Seewald disse que a outra opção é permitir que tudo permaneça como está. Mas ele disse que isso é arriscado, porque, quando o próximo escândalo surgir, os bispos terão de enfrentar demandas justificadas de renúncia, caso ocorram erros graves em suas dioceses.
O teólogo disse que outro aspecto do poder é que aqueles que o possuem não apenas decidem o que pode ser feito, mas também o que se pode dizer.
Ele afirmou que a promessa dos bispos de fazer tudo para limpar os abusos foi de pouco valor até agora, já que isso só é possível em uma cultura de mente aberta, em que as mágoas possam ser declaradas abertamente.
Infelizmente, a Igreja Católica ainda está longe de ser culturalmente aberta, disse o professor Seewald.
Ele disse que, em uma Igreja onde é oficialmente proibido discutir certos assuntos, foi necessária uma pressão externa para quebrar o tabu de discutir o abuso sexual clerical. E ele lamentou que ainda existam outras questões que são tabus e que quem se atreve a discuti-las deve enfrentar as sanções internas da Igreja.
“O procedimento sinodal só terá sucesso se os bispos renunciarem a todos os tabus e colocarem a Cúria, que perdeu o controle, no seu lugar”, disse Seewald.
Ele disse que isso exigirá muita coragem, porque renunciar ao poder não é para os fracos. Até agora, os bispos diocesanos sempre apontaram para o que não é possível por causa das considerações para a Igreja global. Mas Seewald disse que eles devem começar a afirmar claramente o que é inaceitável em nível local.
“O procedimento sinodal só pode ter sucesso se os bispos conseguirem reunir coragem suficiente para adotar essa abordagem”, disse.
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Bispos devem ceder algum poder aos leigos, diz teólogo alemão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU